Depois de “dominar” a internet ao atingir a marca de 4,5 milhões de óculos comercializados em 2016 para 50 países, a Hawkers anuncia expansão ao lançar sua divisão de atacado na Mido 2019. O Brasil já teve uma prévia da novidade, que ocorreu na segunda semana de setembro, em São Paulo.
A Mido 2019 será o cenário de chegada da Hawkers ao mercado óptico. A marca espanhola de óculos, que nasceu na internet e em cinco anos se tornou uma das mais vendidas on-line no mundo, mostrará sua “face off-line” na feira italiana, em fevereiro, com os lançamentos da divisão de atacado e de uma linha de armações de receituário.
No Brasil, a Hawkers instalou-se há cerca de um ano com a abertura do comércio eletrônico com solares entre R$ 169 e R$229. O acetato injetado (mais precisamente o grilamid TR-90) é a matéria-prima predominante na coleção, que também aposta em lentes espelhadas de vários tons e embalagens, estojos e microfibras distintas para cada modelo da grade. E na segunda semana de setembro a marca realizou, em São Paulo, uma preview da “divisão off-line”, apresentando-se a vários lojistas brasileiros.
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Espírito do tempo
O termo em alemão “zeitgeist” (com pronúncia semelhante a “záitigáisti”) pode ser definido como “espírito do tempo” e traduz as energias de renovação e as tendências de cada momento do mundo. Isso significa que, em diferentes partes do universo,pessoas e empresas se desenvolvem com boas doses de originalidade e, mesmo sem nunca saberem uma da existência da outra, seguem caminhos “revolucionários”semelhantes.
Nos últimos dez anos, o espírito do tempo da óptica (e em outros segmentos da sociedade, inclusive) tem sido o da ruptura – ou da disrupção, como algumas pessoas preferem denominar o momento, inspiradas pelo termo original em inglês (“disruption”). É bem o que define a terceira Lei de Newton (“a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, masque atua no sentido oposto”): correspondente à ação das grandes corporações da óptica, que operam tradicionalmente e brigam avidamente por fatias cada vez maiores de mercado, veio uma reação muito forte de renovação, alimentada por um grande desejo de fazer as coisas de maneira diferente.
Disso, resultaram novas formas de fazer negócios (especialmente, tendo a internet como ferramenta) e surgiram pelo mundo afora muitas novas marcas de óculos (a maioria, exclusivamente de óculos solares) que bebiam na fonte do fenômeno das redes de fast fashion, com coleções enxutas, lançamentos frequentes, valores acessíveis e pouca informação de moda, mas com detalhes de design capazes de conquistar o coração dos consumidores.
E vários desses negócios inovadores foram muito bem-sucedidos. Um dos maiores exemplos desse movimento é a Warby Parker, e-commerce de armações de receituário (com lentes de grau, inicialmente só visão simples) e óculos solares fundada em 2010 por quatro jovens norte-americanos que se destacou rapidamente no cenário mundial e que, três anos mais tarde, investiu maciçamente na abertura de lojas físicas (atualmente, são quase 90 pontos de venda) e hoje é um negócio avaliado em US$ 1,75 bilhão.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico,vários jovens criativos – a maioria sem qualquer ligação prévia com a óptica – começaram a lançar marcas de óculos. A Espanha foi um dos países mais produtivos nesse sentido: os últimos dez anos foram testemunhas de muitos novos negócios. Empresas e marcas pequenas, mas várias bem-sucedidas. Alguns ainda mais focados no produto (a madeira foi a matéria-prima queridinha de boa parte dessa geração), alguns no espírito do fast fashion e outros mais focados na forma de fazer negócios.
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De € 300 a € 100 milhões em três anos
A Hawkers se inclui nessa última categoria:a marca nasceu em 2013, em Alicante, costa do Mar Mediterrâneo, pelas mãos e as mentes de quatro jovens de 20 e poucos anos (Iñaki Soriano e Pablo Sánchez Lozano, além dos irmãos Alejandro e David Moreno) que trabalhavam em tecnologia e tinham por objetivo criar um aplicativo com alto potencial de negócios, mas,para isso, precisavam se capitalizar para executar seu projeto. Passaram a construir sites (vários eram plataformas de comércio eletrônico) quando se deram conta de que ganhavam pouco para colocar no ar negócios que faturavam bem e de forma rápida.
Aí optaram por deixar o projeto inicial de lado e dedicaram-se a montar seu próprio comércio eletrônico. Sabiam como vender, mas não tinham ideia do que iriam vender. A linha de raciocínio que conduziu até a escolha dos óculos foi oferecer um produto com baixo custo de fabricação do qual muitas pessoas precisassem e com valor alto de venda. Sim, a tal margem da óptica que seduziu e continua seduzindo empresários, tanto os das antigas como os moderninhos, por esse mundo afora.
Podiam não entender de óculos, mas conhecimento em tecnologia e desenvoltura para operar comercialmente nas redes sociais não lhes faltavam. Decidiram, então, investir € 300 de seus próprios bolsos para comprar 27 óculos da marca californiana Knockaround. Rapidamente esses 27 se transformaram em 50, que se transformaram em 150 mil peças comercializadas apenas durante um verão europeu, o que lhes fez distribuidores da Knockaround para o Velho Mundo. Nessa altura, um quinto nome se juntou ao grupo: Francisco Pérez, responsável pelo desenvolvimento dos negócios.
Mas logo veio a vontade de ter a marca própria – afinal, nada como dispor de autonomia para tocar o próprio negócio.Foi aí que decidiram escolher a simbólica data de 11 de dezembro de 2013 (por conta da sequência dos números 11, 12 e 13) para lançar a Hawkers. Cada vez mais experts em redes sociais, em apenas 24 horas venderam € 16 mil euros.
Em entrevista concedida à jornalista Ana Franco para a versão espanhola da revista Forbes em junho de 2017, David Moreno explicou que, quando começaram, as marcas não usavam as redes sociais, porque parecia algo invasivo. “O Facebook era uma festa para a qual as empresas não eram convidadas. Nós não éramos intrusivos, parecíamos colegas, desenvolvíamos experimentos de growth hacking (estratégia de posicionamento que busca atingir o número máximo de pessoas com os recursos mínimos) para estimular conversas, e conseguimos crescer em um ritmo incrível. Em pouco tempo, a Hawkers foi a segunda marca de óculos de sol do mundo em número de fãs, apenas atrás de Ray-Ban”, relatou.
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Hoje somam mais de 6,5 milhões de seguidores no Facebook, 200 mil no Twitter e 1 milhão no Instagram. Por conta de uma estratégia tão bem-sucedida, foram convocados tanto pelo Facebook quanto pelo Twitter para que compartilhassem um pouco de sua expertise com os engenheiros dessas redes sociais. E a parceria coma corporação de Mark Zuckerberg não parou por aí: a Hawkers foi escolhida para criar uma coleção de óculos com o logo da rede social para comercialização interna, entre os funcionários da rede social.
Collabs, aliás, não são novidade para a marca, que tem desenvolvido o poder de fogo da marca ao desenvolver séries limitadas com nomes do esporte (como os craques do Barcelona, Lionel Messi e Luis Suárez, e o skatista californiano Boo Johnson), da música (o DJ norte-americano Steve Aoki) e da tevê espanhola (a atriz e influenciadora Paula Echevarría, com 2,4 milhões de seguidores). Também fizeram incursões no universo da arte, ao fechar acordo com os proprietários dos direitos autorais dos artistas nova-iorquinos Jean-Michel Basquiat e Keith Haring, expoentes da arte nos anos 80, para desenvolver séries limitadas com partes de suas obras estampadas nas peças.
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Em 2016, movimentaram € 60 milhões e venderam 4,5 milhões de óculos. Já no ano seguinte, realizaram uma rodada de investimentos pela primeira vez e receberam uma injeção de capital de € 50milhões, o que fez a Hawkers chamar a atenção uma vez, pelo fato de ter sido uma das empresas na Europa a receber tamanho valor em uma primeira rodada de investimentos.
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Hawkers nas redes
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