Mesmo quem tem umas doses da menina Pollyanna no DNA, há de concordar que os tempos estão meio tenebrosos nesse nosso Brasil de hoje. Os espíritos estão tão inflamados que às vezes fica difícil praticar o jogo do contente, a brincadeira favorita da garota otimista do livro de Eleanor H. Porter.
Mas nem tudo é fake news e chuva de “bom dia” nos grupos do WhatsApp, uma das principais plataformas de conflito. Dias antes do primeiro turno das eleições, um querido amigo compartilhou um vídeo do antológico grupo britânico de comédia Monty Python em um dos grupos do qual ainda acho que vale a pena interagir.
O incrível John Cleese abre a obra-prima de quase 4 minutos falando da atmosfera dura e desagradável que o extremismo pode causar, gerando agressividade e desrespeito e cada vez menos simpatia e tolerância pelos adversários, mas logo destaca que nunca se ouve falar sobre as vantagens de ser um extremista (que é, aliás, o título do vídeo) e explica a capacidade do extremismo de fazer as pessoas se sentirem bem porque ele lhes dá inimigos. E cita: “a grande coisa sobre ter inimigos é que você pode fingir que toda a maldade do mundo está em seus inimigos e toda a bondade do mundo está em você!”
E aí o quadro envereda pela política com exemplos que pareciam ser daquela época, mas, segundos depois, fica evidente que os aspectos valorizados pelo extremismo são praticamente os mesmos de hoje. Isto é, extremista é extremista ontem, hoje e sempre.
E termina de forma brilhante: “de fato, a única vantagem do extremismo é que ele nunca vai resolver problemas. Mas resolver problemas é uma chatice comparada à brilhante vitória de esmagar o capitalismo, destruir o socialismo e se sentir bem! Resolver problemas envolve coisas frustrantes como ouvir pessoas com diferentes pontos de vista e aprender com isso”.
O incrível texto do Monty Python, grupo que é considerado o equivalente dos Beatles no humor, tamanha a sua genialidade e a influência que exerceu sobre a comédia pelo mundo afora, retrata tão fielmente não apenas a postura da população brasileira hoje, mas espelha a atitude que muitas vezes tomamos em ficarmos na zona conforto do extremismo em alguns momentos da vida para, no fundo, adiarmos a solução de algum problema. Sabe aquelas horas em que a gente adota um comportamento brigão, sem querer muita conversa e fica arrumando problema onde não existe? Puro extremismo!
Quem acompanha os meus textos ao longo de quase duas décadas, já percebeu que volta e meia eu retorno ao tema “zona de conforto”. Às vezes, nem é a intenção, mas começo a escrever e lá está ela, a tal da zona de conforto dando um “oizinho”. Vai ver que é porque tenho como princípio a afirmação que a real mágica da vida só acontece fora da zona de conforto.
Talvez por conspirações do universo, quando eu estava preparando este texto, meu amigo da vida toda mandou um pensamento do monge budista e pacifista Thich Nhat Hanh que tem tudo a ver com esse espírito: “as pessoas têm dificuldade de abandonar seus sofrimentos. Por medo do desconhecido, preferem sofrer com o que é familiar”. Ou seja, amargarem em sua zona de conforto particular.
E na noite do domingo, dia 28, após o final da apuração, os brasileiros terão a chance de deixar de lado o extremismo. Obviamente, um lado vai estar feliz da vida e o outro, frustradíssimo, mas o foco tem de estar na resolução dos problemas, em planejar e executar no presente para garantir um futuro mais feliz. Você, aí me lendo, pode achar que eu estou sendo Pollyanna, porque tem certeza de que, pelo contrário, começará uma nova era das trevas, seja comandada pela direita ou pela esquerda. Pode até ser, mas exercitar o jogo do contente nos dias de hoje é praticamente uma estratégia da sobrevivência e, além de tudo, é um convite a abandonar o extremismo e deixar de sofrer com o que é familiar, praticando a empatia e aprendendo com diferentes visões. Vida eterna à mágica que ocorre fora da zona de conforto!
Eis aí o vídeo do Monty Python sobre a vantagem de ser um extremista (com legendas em português):
Obrigada pela leitura!
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