Estudo publicado por jornal científico norte-americano revela que a genialidade espacial de um dos maiores gênios da arte deve-se a uma rara condição visual.

A exotropia intermitente colaborou para que Da Vinci pintasse a distância e a profundidade de objetos em superfícies planas com a precisão que o tornou famoso, segundo pesquisa do jornal Jama Ophthalmology.

À frente da pesquisa das raízes do gênio da Renascença italiana está o professor e pesquisador Christopher Tyler da City University, de Londres, e do Smith-Kettlewell Eye Research, de São Francisco. “Olhando para seu trabalho, percebi a pronunciada divergência dos olhos em todas as suas pinturas”, explicou.

Ao analisar a direção do olhar de Da Vinci em seis prováveis autorretratos (duas esculturas, duas pinturas a óleo e dois desenhos), opesquisador deu conta que alguns dos trabalhos mostravam sinais de exotropia, em que os olhos miravam ângulos externos. Nem todas as seis obras eram autorretratos,mas, segundo a CNN, Da Vinci especificou em seus próprios escritos que qualquer retrato de um pintor reflete a sua própria aparência.

Entre as obras analisadas estão uma escultura de David de Andrea de Verrochio que acredita ter sido modelada no jovem Leonardo, uma escultura de João Batista por Benedetto da Maiano também supostamente baseada no artista e até mesmo no Homem Vitruviano de Leonardo. Os olhos do famoso Salvator Mundi, que alguns especulam conter um autorretrato do artista, também mostram as pupilas divergentes, segundo a descoberta de Tyler.

Aquele 1%

O pesquisador avaliou a condição do olho analisando as pupilas, a íris e as pálpebras em cada pintura e medindo suas posições. Ao converter as medidas em ângulos, os resultados mostraram que Da Vinci tinha uma tendência à exotropia, em que seu olho esquerdo girava -10,3 graus para fora quando relaxado, mas que também poderia realinhá-lo ao retomar o foco. Tyler acredita que o olho esquerdo de Da Vinci era afetado por essa rara condição, mas não é fácil ter certeza.

Segundo Tyler, a exotropia, que é uma forma de estrabismo, afeta cerca de 1% da população mundial. E foi esse estrabismo divergente que permitiu que Da Vinci enxergasse o mundo sob um ângulo diferente. “O que ele enxergava seria mais parecido com uma tela plana comparando-se com uma pessoa de visão normal, que vê uma tela tridimensional”, explicou Tyler, “o que facilitou a traduzir as coisas para as telas”.

Essa condição contrastou com a visão regular de olho direito, que contribuiu para que desenvolvesse uma forte compreensão dos objetos tridimensionais. Tyler afirmou que essa habilidade possibilitou que a maioria de suas obras tivesse o sombreamento preciso pelo qual se tornou conhecido.

O estudo observou que a diferente direção e o tamanho das pupilas em algumas das obras de Da Vinci podem ser interpretados como anisocoria, condição em que uma pupila é maior que a outra. No entanto, o pesquisador afirmou que isso é “muito improvável”. Em vez disso, acredita que Da Vinci estava usando essa representação para mostrar sua experiência de um olho vendo mais claramente que o outro.

Técnicas semelhantes de pesquisa foram empregadas para provar que outros grandes artistas plásticos como Rembrandt, Edgar Degas e Pablo Picasso fossem diagnosticados com vários tipos de desalinhamento ocular.

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