A Thélios Eyewear anunciou a aquisição da icônica marca francesa Vuarnet, que pertencia ao fundo inglês Neo Investment Partners. A negociação já é considerada um marco na trajetória da divisão de óculos do conglomerado de marcas de moda e luxo francês LVMH, já que, além de ser a primeira aquisição de marca pela Thélios, é sua primeira marca própria.

Essa aquisição dará à Vuarnet acesso aos extensos recursos da Thélios, incluindo capacidades de pesquisa e desenvolvimento, expertise técnica e alcance global. O CEO da Thélios, Alessandro Zanardo, que já passou alguns anos no por aqui como CEO da Luxottica Brasil, revelou-se emocionado com a compra: “a Vuarnet é uma marca lendária, com uma história única que merece ser preservada e perpetuada. Seu design icônico, seu conhecimento único em lentes minerais e seus fortes valores de marca combinam perfeitamente com o DNA e o posicionamento da Thélios”.

Segundo o comunicado oficial, o objetivo da Thélios é restaurar a antiga glória da marca, elevando ainda mais a qualidade das coleções Vuarnet e expandir os limites da inovação.

Até hoje, a marca produz as próprias lentes minerais em sua fábrica em Meaux, na França, que o governo francês, inclusive, certificou como “Entreprise du Patrimoine Vivant” (do francês, algo com “Empresa do Patrimônio Vivo”), selo criado pelo governo francês que reúne fábricas comprometidas com o alto desempenho de seus negócios e seus produtos. E essa expertise no desenvolvimento e na produção de lentes minerais da Vuarnet permitirá à Thélios expandir sua atuação nessa categoria também.

Quer saber mais sobre a história da Vuarnet? Senta que lá vem história…

O óptico Roger Pouilloux abriu sua boutique de óculos em Paris em 1942, no número 28 da rue Boissy d’Anglas, no coração de Paris, e Joseph Hatchiguian, que trabalhava com ele na época, criou as lentes Skilynx em 1957.

Três anos mais tarde, nos Jogos Olímpicos de Inverno, realizados em Squaw Valley, nos Estados Unidos, o atleta francês Jean Vuarnet conquistou a medalha de ouro na modalidade downhill usando um par de óculos solares sem concorrentes no mercado: as lentes de vidro mineral eram capazes de bloquear não apenas os nocivos raios solares, mas também aumentar a acuidade visual mesmo em cenários adversos como neve, água e neblina.

Foi assim que, neste mesmo ano de 1960, Pouilloux e Hatchiguian lançaram a marca Vuarnet em associação com o esportista. A companhia se expandiu pela França, os Estados Unidos e outros países ao longo dos anos e ganhou muita visibilidade em 1984 nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Inicialmente focados na prática de esportes, especialmente por conta das lentes Skilynx e da série PX criadas por Hatchiguian, os óculos da marca tornaram-se objetos de desejo com o passar das décadas e, nos anos 80 até o começo dos anos 90, eram o sonho de consumo de nove entre dez jovens pelo mundo afora.

Eu posso falar por experiência própria: vivi os anos 80 no Rio de Janeiro, e mesmo em uma era de mercado fechado, os óculos Vuarnet eram cobiçados. O acesso a produtos importados era limitadíssimo e ter um Vuarnet naquela altura significava vários degraus acima na escala do consumo. As lentes eram incríveis – lembro até hoje da sensação de colocar um Vuarnet pela primeira vez no rosto, uau! Aliás, tenho o meu até hoje, com o estojo original até, agora está na minha coleção e por certo precisando de uma renovação, afinal já são quase 40 anos de vida…

Mas, voltando à trajetória da Vuarnet, na virada do século, com a rapidez das mudanças impostas pela globalização, a internet, a moda e o design, criando novas configurações para o mercado, a Vuarnet não conseguiu acompanhar toda essa velocidade e, temporariamente, diminuiu sua visibilidade junto ao público.

Mas antes de chegar à Thélios, passou pelas mãos de ninguém menos que o visionário designer francês Alain Mikli.

Tudo começou em maio de 2009, quando Mikli deu início à profissionalização dos negócios, ao vender parte da empresa ao Neo Investiments, transação que também trouxe para a direção das operações um executivo de vasta experiência no mercado óptico, o francês Dominique Alba.

Com isso, a nova configuração da empresa passou a ter Mikli e o fundo com 47% das ações cada um e Alba com os 6% restantes. O criador, então, passou a focar sua atuação na direção criativa das marcas, comandando o desenvolvimento dos produtos e a comunicação.

Em dezembro do mesmo ano, Alain Mikli anunciou a compra de 75% da Sportoptic Pouilloux, detentora da Vuarnet com o objetivo de dar vida nova a este ícone dos óculos solares esportivos. No final de 2011, Alain Mikli vendeu os negócios para a então Luxottica, mas a Vuarnet não entrou na transação, permanecendo com a Neo Investiments até hoje.

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