Um dos meus últimos textos nas eras impressas, há quase dois anos, foi sobre as avassaladoras mudanças que o mercado óptico vivia naquela altura e que nada mais eram reflexos do momento pelo qual o mundo estava (e ainda está) passando. O que eu chamei de fim de uma era de romance, com ares até um tanto saudosistas, ganhou o título de “tempos disruptivos” na boca de especialistas e teóricos. Enfim, uma ruptura atrás da outra no mundo e na óptica, com notícias que deram o que falar e inauguraram novos tempos.
Quando as notícias caem como bombas, é difícil prender-se pura e friamente aos fatos e, mesmo que não se queira, a cabeça começa a maquinar hipóteses e suposições, especialmente quando se sente diretamente afetado. Como, aliás, não se sentir diretamente envolvido com tudo que tem ocorrido nesses dias no Brasil e também diante de grandes mudanças no mercado em que se atua?
Vários fatos já não são tão novidade assim, mas a ruptura que causaram segue proporcionando reflexos e criando novas realidades. A Uber, por exemplo. Ao lado de outros aplicativos como Netflix, AirBnB e Whatsapp, provocaram uma revolução nos negócios e incomodaram taxistas, tevês a cabo, operadoras de telefonia e redes hoteleiras, impondo novos modelos de negócios, a ponto de se tornarem ícones da economia colaborativa, nova maneira de empreender e de fazer o mundo girar e parece que estão sendo capazes de jogar uma considerável pá de cal na “fúria capitalista”. O barulho foi tanto que se criou até o termo “uberização” para definir esses novos modelos de negócios e até como sinônimo de real inovação.
Falando especificamente dos táxis, já pensou o que é nunca ter tido concorrência? É até difícil imaginar passar uma vida sem concorrência. Mas, se por um lado é o melhor dos mundos, por outro é estar tanto tempo em berço esplêndido que faz a acomodação reinar, mesmo que haja preocupação com a qualidade – e, convenhamos, qualidade raramente foi a marca do serviço de táxis pelo país afora.
Sem mimimi
Taxistas sem concorrência ou negócios com altos níveis de concorrência, pouco importa na hora que uma revolução como a da Uber dá as caras. E quem nunca teve um Momento Uber na vida? Aquele em que se sente que o chão sumiu, muito do que estava estabelecido virou pó e que era preciso começar de novo? Hoje em dia, praticamente todo mundo tem seu momento Uber para contar. Ou se ainda não passou por isso, é bem provável que esteja perto. Longe de mim estar rogando praga, mas esse é o desenho do mundo atual.
E com essa velocidade astronômica das mudanças, a rapidez de reação e renovação é essencial. Sim, uma parte do mundo vive um momento cheio de “mimimi”, mas, definitivamente, essa não é a melhor postura para seguir em frente, afinal, enche a cabeça de caraminholas e a alma de mágoas, e nada disso é combustível para boas e frutíferas ações. O grande segredo é praticar o “aceita que dói menos”, adaptando-se e entendendo que essas revoluções geram novas realidades. E mais: o mundo não vai acabar, a gente pode até ficar meio assim, mas não dá para desanimar. Se você desanimar, então talvez seja melhor desistir logo, porque o mundo parece ser cada vez mais para quem acredita em seus talentos e os coloca em prática.
Na minha modesta opinião, creio que há dois caminhos para manter a fortaleza – ou como diz a letra daquela música, “manter a mente quieta, o coração tranquilo e a coluna ereta”. E dois caminhos que se complementam: o olhar limpo e a empatia.
Olhar limpo para enxergar bem as situações da vida. Esses Momentos Uber são prato cheio para tirar o foco e embaçar nosso olhar. Quanto mais em paz a mente e a alma estiverem, mais limpo será esse olhar. Em fevereiro, tive a oportunidade de entrevistar, para um dos projetos que executo além do Lady, uma das deusas da moda brasileira, a consultora e empresária Costanza Pascolato. Uma das coisas que sempre me encantou nela é a facilidade com que acompanhou as evoluções da moda ao longo das décadas. E me surpreendi ainda mais quando fui pesquisar sobre ela para fazer a pauta da entrevista e descobri que ela está prestes a fazer 80 anos (em setembro de 2019): continua ativa e moderna, que exemplo!
Obviamente, essa foi uma das perguntas que lhe fiz e ela explicou: “a novidade é saber se adaptar e não ser muito partidário disso ou daquilo. É preciso recuar, se possível, cuidar do próprio eu e enxergar com óculos maravilhosos. (…) Preciso me recolher e aperfeiçoar o espírito”.
Semana que vem, volto para falar da empatia, o segundo e decisivo caminho para entender e se renovar em tempos disruptivos. Até lá!
Obrigada pela leitura!
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