Na primeira parte deste texto, falei das recentes revoluções que impuseram novos modelos de negócios e isso se aplica tanto em caráter global quanto no “microuniverso” da óptica. Novas maneiras de empreender e fazer a economia girar estabeleceram novas realidades de mercado, gerando uma onda de Momentos Uber na vida de muita gente. Defino Momento Uber como aquele em que a pessoa sente que o chão sumiu e que muito do que tinha como estabelecido virou pó e que era preciso começar de novo. Hoje em dia, são raras as empresas e os profissionais que ainda não tiveram pelo menos um Momento Uber em suas trajetórias.

Diante dessa velocidade astronômica das mudanças, a rapidez de reação e renovação é essencial. O grande segredo é praticar o “aceita que dói menos”, adaptando-se e entendendo que essas revoluções geram novas realidades. O mundo parece ser cada vez mais para quem acredita em seus talentos e os coloca em prática. E, para manter a fortaleza, creio que há dois caminhos que se complementam: o olhar limpo e a empatia. Falei do olhar limpo para enxergar bem as situações da vida e a empatia é o segundo caminho para entender e se renovar nesses tais tempos disruptivos.

Movendo montanhas

Há pouco mais de dois anos, o universo me deu a oportunidade de conhecer o trabalho do filósofo britânico Roman Krznaric, que é considerado o maior especialista e entusiasta da empatia no mundo – além de ideias, ele é o responsável por projetos fantásticos como o Museu e a Livraria da Empatia. Em seu livro sobre o tema (O poder da empatia), o pensador revela que ela pode causar uma revolução nas relações humanas. Não apenas concordo, como acredito que, ao lado da fé, a empatia também move montanhas.

Empatia é um ato de amor, é a arte de se colocar na pele de outra pessoa e ver o mundo sob essa perspectiva. É, certamente, o antídoto para um mundo tão hiperindividualista. Trata-se de compreender pensamentos, sentimentos, ideias e experiências que compõem a perspectiva de mundo do outro. É entender a história por trás da outra pessoa. Krznaric explica que, segundo os neurocientistas, 98% das pessoas no mundo são capazes de colocar-se no lugar do outro, isto é, a boa notícia é que os nossos cérebros estão programados para a empatia! Uma “lição de casa” importante para todos nós, nos dias de hoje, é aprender a usar o poder da empatia para criar transformações social e política.

Aliada para o balcão

Mas a empatia também é estratégica nos negócios e no balcão e pode ser empregada eficazmente como uma técnica de estabelecer conexão com quem está à nossa volta e não apenas com aqueles com quem se tem mais afinidade.

A empatia é um remedinho mágico: praticar verdadeiramente o exercício de se colocar no lugar do outro faz desarmar o gatilho do julgamento. Sabe aquele instante de irritação com a decisão tomada por alguém próximo e, mesmo que silenciosamente, há um desejo sem fim de censurar aquela pessoa? O caminho é esforçar-se para fazer a seguinte pergunta: “será que no lugar dele (ou dela) eu não faria mesmíssima coisa?”. Em geral, a resposta vai ser “sim” ou, pelo menos, o ato de fazer pensar já aplaca a sede da crítica e mantém o olhar limpo e a mente clara para analisar as situações. Sensação libertadora, diga-se de passagem.

No balcão, a empatia pode ser uma ótima aliada. Todos os dias, personalidades dos mais variados tipos entram na óptica e cada uma carrega suas histórias, maneiras de lidar (ou não) com as questões da vida e, de forma geral, todas querem comprar óculos. E não é todo mundo com quem se estabelece uma conexão imediata e a venda sai fácil. Logo que aquele atendimento der sinal de que tem algo travado ou que você se irritou com alguma atitude do consumidor, exercite: “quem é essa pessoa diante de mim? Por que ela está se sentindo dessa forma? Será que no lugar dela eu não faria a mesma coisa? Será que no lugar dela eu não reagiria da mesma forma?”. Garanto que assim vai ficar muito mais fácil estabelecer conexão e aumentar a eficiência do atendimento. Além disso, é uma forma muito positiva de conjugar o verbo “enxergar”, tão íntimo de nosso dia a dia: enxergar o mundo sob a perspectiva do outro. Boa prática!

Obrigada pela leitura! 🙂

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