Às vezes, o Facebook ainda tem uma certa graça. Essa semana, apareceu na minha timeline um desafio que um amigo tinha aceitado: postar imagens dos dez filmes mais importantes de sua vida. Aí é meio natural para quem gosta do assunto ligado ao desafio parar alguns minutos para fazer a sua própria lista – nem que seja mentalmente. Eu embarquei nessa e, logo, estava pensando: Blade Runner, Maria Antonieta, Cidadão Kane, Um corpo que cai, Bonequinha de luxo, Sociedade dos poetas mortos

Foi aí que as emoções desse último me arrancaram da tal lista mental e me levaram para longe. Voltei a 1959 e desembarquei em uma conservadora escola secundária nos Estados Unidos, onde o professor de inglês John Keating (interpretado por Robin Williams) promove uma revolução na forma de fazer seus alunos verem a vida. Sim, a querida e bela visão! O filme também trouxe para a ordem do dia a expressão em latim “Carpe diem”, isto é, “aproveite o dia”, originária do poema Ode XI do romano Horácio, direto do século 23 a.C.

O que parece apenas como uma perfeita aula para adolescentes ou jovens de como posicionar-se contra o sistema, vai muito além disso. Aula após outra, Keating faz seus alunos pularem mais que milho de pipoca no óleo quente, propondo atividades (de preferência, bem inusitadas) para que aprendam a pensar sozinhos e fujam do conformismo. No primeiro encontro, introduz o conceito de Carpe diem, orienta-os a fazerem de suas vidas extraordinárias e completa: “vocês aprenderão a pensar sozinhos, a saborear as palavras e a linguagem. Independentemente do que digam a vocês, palavras e ideias podem mudar o mundo”.

E o professor continua explicando o significado de Carpe diem a seus alunos: “somos comida para minhocas, rapazes. Porque, acreditem ou não, todos e cada um de nós nesta sala vamos parar de respirar, ficar frios e morrer”. E mostrando antigas fotos de ex-alunos da escola, continua: “terão eles esperado até que fosse tarde demais para fazer da própria vida pelo menos um átimo do que eram capazes? Porque, como veem, cavalheiros, esses rapazes estão agora fertilizando narcisos. Mas se vocês escutarem bem de perto poderão ouvi-los sussurrar seu legado para vocês… Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos, tornem suas vidas extraordinárias”.

Em outro momento (o meu favorito!), sobe com muita destreza em sua própria mesa e pergunta aos alunos: “por que estou aqui em cima?”. Um simplista responde: “para ficar mais alto”. E o professor, magistralmente, conta: “estou aqui em cima para lembrá-los que devemos ver as coisas de jeitos diferentes. Quero mostrar a vocês que devemos mudar nossa visão constantemente. O mundo é bem diferente daqui de cima”.

E assim convida os alunos a repetirem sua performance. Enquanto todos, em fila, sobem e descem da mesa, o mestre continua: “exatamente quando você acha que sabe alguma coisa, tem de olhá-la de outra forma. Apesar de parecer bobagem ou errado, tente! Quando você ler, não considere só a opinião do autor, considere o que você pensa. Você deve encontrar sua própria voz. Aprenda a destacar-se e a encontrar um novo solo”.

As mensagens desse filme são dignas de mantras. Sempre é bom lembrar que é preciso ver pessoas, situações e as coisas em geral sob outros prismas – e, é claro, isso fica ainda mais fácil quando se usa óculos. Assim, a alma fica mais leve para tornar a vida extraordinária e aproveitar muito cada dia. E se for o caso, naqueles dias mais teimosos, que tal subir na mesa (nem que seja mentalmente) para ver como o mundo é diferente lá de cima e se lembrar dessas belíssimas palavras? Carpe diem!


  Se quiser ver ou rever Sociedade dos poetas mortos, está disponível na Netflix.

  O tema Carpe diem tornou-se tema de livro e estudo do filósofo britânico Roman Krznaric, recém-lançado no Brasil pela Editora Zahar.

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