A óptica mundial perdeu um de seus ícones. Morreu em 22 de fevereiro, aos 94 anos, o francês Bernard Maitenaz, o profissional que redefiniu a indústria óptica. em 1959, ao inventar as lentes progressivas.

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Maitenaz foi um dos fundadores da Essilor em 1972. Comandou a empresa entre 1981 e 1991, década em que a empresa viveu um período de grande crescimento internacional, transformando-a na líder mundial de lentes oftálmicas. Depois de aposentar-se, seguiu como presidente honorário do Conselho de Administração da Essilor e como membro-fundador da associação de funcionários acionistas, a Valoptec.

Em comunicado oficial, o atual presidente e CEO da Essilor International, Paul du Saillant afirmou:

“Toda a família Essilor está muito triste pela perda de nosso presidente honorário, amigo e colega, Bernard Maitenaz. Um verdadeiro pioneiro e inventor de coração, também será lembrado pelos valores com os quais liderou a Essilor e que promoveu na Valoptec ao longo de sua carreira de mais de 70 anos. Sem ele e a invenção das lentes progressivas Varilux, a indústria óptica e a Essilor não seriam o que são hoje. Devemos muito a Maitenaz, que continuará sendo uma fonte de inspiração para as gerações futuras. Neste dia triste, nossos pensamentos estão com sua família, filhos e netos”.

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“Acerto de contas” de 175 anos

Bernard Maitenaz formou-se em engenharia pela Arts et Métiers em 1946 e, no ano seguinte, pela Ecole Supérieure d’Optique.

Vale mencionar que ao criar as lentes progressivas em 1959 e batizá-las de “Varilux”, Maitenaz acertou as contas com a visão após 175 anos (!). Sua criação contribuiu consideravelmente para a acuidade visual das pessoas que a partir dos 40 anos começam a sentir dificuldade de leitura à meia distância e, por mais que estiquem seus braços, não conseguem enxergar. Até então, a humanidade se virava com lentes bifocais inventadas pelo norte-americano Benjamin Franklin em agosto de 1784 (!).

Frustrado com os óculos bifocais do pai e determinado em aprimorar a sua ao melhorar sua visão, o parisiense investiu-se da tarefa de criar uma lente que forneceria visão confortável a qualquer distância. Depois de mais de dez anos de pesquisa, Maitenaz concretizou sua criação ao constatar que a transição entre os campos de visão havia alcançado os níveis desejados.

Na sede da Essilor nos arredores de Paris, está exposta a armação com as primeiras lentes que que Maitenaz criou para o pai.

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“Não existe uma fórmula definida para se tornar um inventor. É preciso ser um bom observador e estar sempre atento.”

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Carreira brilhante

Por sua contribuição para o campo de visão, Maitenaz obteve reconhecimento em várias áreas de pesquisa e tecnologia.

Ensinou engenharia óptica na Ecole Supérieure d’Optique, em Paris. Também foi conselheiro de educação técnica no ministério da Educação e presidente do Centre d’Enseignement et de Recherche em Paris.

Atuou como membro de vários conselhos de administração, especialmente na École Supérieure d’Optique por mais de uma década e na École National Supérieure des Arts et Métiers de 1990 a 1994. Foi membro do conselho do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) de 1992 a 2003 do Conseil pour les Applications de l’Académie des Sciences (Cadas).

Recebeu várias honrarias por suas contribuições para a optometria, incluindo um doutorado honorário em Ciências Oculares do New England College of Optometry em Boston (1988) e um doutorado honoris causa da Escola de Optometria da Universidade de Montreal em (1993).

Recebeu o Apollo 2014, o maior prêmio concedido pela Associação Norte-americana de Optometristas, que homenageia indivíduos ou organizações por serviços à saúde visual.

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Origem singular

Vale lembrar que quando as lentes progressivas foram criadas por Bernard Maitenaz em 1959, a Varilux pertencia à Silor – a Essilor seria fundada apenas em 1972.

A origem da corporação francesa é singular, com sucessivas fusões de empresas desde 1849 e curiosas junções de sílabas e palavras. A mais recente até então datava de 1972, quando do casamento da Essel (criadora da Orma) e da Silor (detentora da Varilux), até que, em 2016, Essilor e Luxottica se fundiram, criando a EssilorLuxottica.

A Essel começou em 1849 com a Associação fraternal dos produtores de óculos, que depois se tornou a Sociedade dos produtores de óculos e, finalmente, em 1966, a Essel. Já a Silor veio da Frères Lissac (do francês, “Irmãos Lissac”) em 1936, que, dez anos mais tarde, deu origem à Sil (Société industrielle de Lunetterie, isto é, “Sociedade industrial de óptica”). Por outro lado, a Lor, criada em 1948 como Los (Lentilles ophtalmiques spéciales, isto é, “Lentes oftálmicas especiais”) e depois convertida em Lor, uniu-se à Telegic em 1966 e passou a ser Lor Telegic. Em 1970, uniram-se, transformando-se em Silor. Um dos fundadores, Georges Lissac saiu de cena com a criação da Essilor e seguiu adiante como varejista. Até hoje, a loja no número 114 da movimentada Rue de Rivoli, no coração de Paris, aberta em 1938, mantém-se como a maior óptica da Europa.

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Minhas lembranças

Conheci Monsieur Maitenaz quando ele veio para feira Abióptica, em 2006. Para mim, de longe, a mais importante celebridade do evento. Afinal, como eu sempre falo, quando terei outra chance de conhecer um inventor de um produto que mudou a vida de tantas pessoas?

Paris, setembro de 2014, com Monsieur Maitenaz

A última vez que o encontrei foi em setembro de 2014, na festa do Silmo D’Or, durante o salão francês de óptica, o Silmo. Uma noite que teve um cenário para lá de especial: o Folies Bergere, cabaré fundado em 1869 (!) que até hoje recebe shows de cancã, e é um dos mais importantes registros da arquitetura art déco na Cidade-Luz. Respeitosamente o reverenciei e registrei o momento.

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