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A grife fundada por Gaby Aghion em 1952 transformou o estilo e o fashion system ao introduzir o comércio de roupas prontas (o tão conhecido prêt-à-porter), ao apostar em novos talentos, desde estilistas como Karl Lagerfeld até as jovens Stella McCartney e Phoebe Philo e deixou um belo legado: a celebração do feminino, com a missão de fazer a mulher sentir-se bem consigo mesma.
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Elegância à francesa
Gabrielle Hanoka nasceu em 1921, na cidade de Alexandria, Egito. Teve uma educação francesa, graças à boa condição financeira e cultural de sua família. Por iniciativa da mãe, uma costureira frequentava a casa para confeccionar roupas com base nas revistas de moda parisienses. Esse convívio viria a ser a primeira inspiração para Gabrielle, que, aos 18 anos, rumou à capital francesa para estudar.
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Seis anos mais tarde, em 1945, Gaby se casou com Raymond Aghion, e os dois mudaram definitivamente para Paris – mais precisamente, para o lado esquerdo do Rio Sena, em meio a intelectuais, artistas e rebeldes, pano de fundo perfeito para o surgimento da Chloé.
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Revolução em Paris
Gaby Aghion desenhou sua primeira coleção de moda feminina em 1952 e cuidou de cada detalhe da produção, de pregar botões a sair para fazer as vendas. Seu visionarismo fazia frente à formalidade quase desconfortável do guarda-roupa feminino da década de 50, valorizando a praticidade, a qualidade, a leveza e a elegância, com roupas prontas de tecidos finos e silhueta suave.
A própria Gaby criou um termo para descrever seu estilo, o “luxury prêt-à-porter” (do inglês e do francês, algo como “pronta entrega de luxo”), pois, até então, a ideia de luxo era associada à alta costura, feita inteiramente sob medida. Naquele ano, associou-se a um amigo, o empresário Jacques Lenoir, para fundar a marca Chloé. Seu desfile de estreia foi em 1956, no famoso Café de Flore, reduto de artistas e existencialistas. Logo, os grandes costureiros seguiram o exemplo – no mesmo ano, Hubert de Givenchy lançou sua primeira linha de prêt-à-porter.
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Em 1958, Gabi contratou o primeiro designer: o francês Gérard Pipart, que introduziu o conceito de batizar as peças seguindo as letras do alfabeto, estratégia que se manteve até 1987 e foi resgatada por Clare Waight Keller, em 2012, para a coleção de acessórios.
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A era Lagerfeld
Ao longo das primeiras décadas de sua fundação, a marca cresceu e contribuiu decisivamente para a consolidação do prêt-à-porter. Além de propor um novo estilo – moderno, mas cheio de delicadeza – também introduziu jovens e talentosos estilistas que se destacam até hoje.
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Em 1966, aos 28 anos, ninguém menos que Karl Lagerfeld assumiu a direção criativa da Chloé atraindo clientela célebre como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Jacqueline Kennedy, a diva do canto lírico Maria Callas e as estrelas do cinema Brigitte Bardot e Grace Kelly. A primeira loja própria foi inaugurada em 1971, na rue du Bac com a rue de Gribeauval, em Paris. Na mesma década, a grife se celebrizou pelas saias longas e as delicadas blusas de gaze e ainda lançou seu primeiro perfume.
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Expansão e novos estilistas
A Chloé foi comprada em 1985 pelo conglomerado suíço de luxo Richemont, que detém atualmente o comando de marcas como Cartier, Van Cleef & Arpels, Dunhill, Lancel e Montblanc, além da loja virtual de luxo Yoox Net-a-Porter, e a aquisição impulsionou a notoriedade mundial da grife francesa. Terceiro maior grupo de luxo do mundo, reportou faturamento total de mais de € 13 bilhões em 2018.
Em 1997, o grupo investiu na “oxigenação” da marca ao contratar a jovem britânica Stella McCartney, até então conhecida apenas como filha do ex-Beatle sir Paul McCartney. Lagerfeld chegou a sugerir que havia sido substituído por um grande nome da música, não da moda, mas logo a jovem recém-formada na londrina Central Saint Martins provou seu talento com um estilo cheio de sensualidade, leveza e criatividade, sem contar no profundo conhecimento de modelagem e alfaiataria. Até hoje, as estampas de abacaxis da coleção do verão de 2001 seguem como forte referência na história da Chloé.
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Stella afastou-se da grife francesa para inaugurar sua marca própria em 2001 e deixou a direção criativa da casa com seu braço direito, a também britânica Phoebe Philo, que lançou a primeira linha de bolsas, sapatos e acessórios de couro. Suas criações – com destaque para a bolsa Paddington e seu inconfundível cadeado, um hit de vendas – atraíram jovens celebridades como as atrizes Kirsten Dunst e Natalie Portman. Em 2004, chegou a segunda marca, See By Chloé, linha mais acessível de vestuário feminino. Quatro anos mais tarde, Phoebe Philo passou o bastão para a também britânica Hannah MacGibbon. Enquanto Phoebe tinha como fonte a estética dos anos 60, Hannah olhou para a década de 70, investindo em tons de nude, cinturas altas e capas em silhuetas sofisticadas, elegantes e fluidas.
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Em 2011, a Chlóe passou a ter estilista britânica Clare Waight Keller como diretora criativa, que permaneceu no cargo por seis anos. E, desde então, a criação está a cargo da parisiense Natacha Ramsay-Levi, cujo talento foi desenvolvido sob a batuta de Nicolas Ghesquière na Balenciaga. Sua estreia nas passarelas foi considerada espetacular pela imprensa de moda. Além de mergulhar nos arquivos para reverenciar o legado da grife, a estilista posicionou ainda mais a mulher Chloé em relação aos tempos atuais: “não se trata apenas de roupas, mas de celebrar a mulher”, afirmou.
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“Sou mulher e sempre desenhei sob a perspectiva da mulher. Penso em como as criações serão usadas e a conexão entre o corpo e as roupas.”
Natacha Ramsay-Levi
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Homenagem ao legado de Gaby
O ano de 2012, em que se comemorou seis décadas de Chloé, foi marcado pelo lançamento de uma edição limitada dos 16 maiores hits da marca, criados por estilistas como a própria Gaby Aghion, Karl Lagerfeld, Stella McCartney, Phoebe Philo e Hannah MacGibbon, vendida com exclusividade na top loja de departamentos norte-americana Barneys. Ilustrações das peças e roupas do acervo da Chloé também integraram uma exposição que rodou o mundo, batizada de “Attitudes” (do inglês, “Atitudes”).
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Em 2013, aos 92 anos, Gaby Aghion compareceu pessoalmente a uma homenagem a seu legado, em Paris, ocasião em que foi condecorada como Cavaleira da Legião de Honra da França pelo então ministro da cultura, Aurélie Filippetti. Nas palavras do ministro, Gaby tirou a moda do pedestal elitista e a tornou acessível com a criação do prêt-à-porter.
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Da passarela para as ópticas
As criações fluidas e femininas e as inspirações dos desfiles a cada temporada são determinantes no desenvolvimento das armações de receituário e dos óculos solares da grife, cuja licença está nas mãos da Marchon desde 2012. Quatro anos mais tarde, a grife trouxe à luz um modelo que já nasceu icônico, garantindo lugar na história do design de óculos: o Carlina, solares redondos de metal oversized e círculos concêntricos, que continuam sendo um sucesso tanto na versão original quanto em várias releituras. Em 2017, o Palma, modelo de metal geométrico de frontal octogonal, conquistou o Silmo D’Or na categoria “armação de receituário” – a premiação é concedida anualmente pelo salão francês Silmo e é considerada o Oscar da óptica mundial, tamanha sua representatividade.
Os looks vintage são a principal inspiração desta estação. Destaques para o Bonnie, modelo de acetato de proporções avantajadas, cujo frontal remete ao símbolo do infinito (disponível nas versões receituário e solar), e o Ayla, solares de metal dourado com frontal “meia lua”, inspirados nos modelos de leitura dos anos 50.
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O legado da Chloé
- Simplicidade e elegância, com silhuetas leves e confortáveis que confrontaram a sisudez dos anos 50
- De 1958 a 1987, coleções inspiradas na Pop art e na Op art, inclusive a capa do antológico disco da banda The Velvet Underground, de 1967, que estampava uma banana, criação do mago da Pop art, o norte-americano Andy Warhol
- A bolsa Paddington, da era Phoebe Philo
- O vestido Violino, de Lagerfeld
- A combinação de short com capa invernal, de Hannah McGibbon
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Como fala?
De acordo com seu idioma natal, o francês, o “É” de “Chloé” torna-se fechado: “clô-Ê”. Mas a pronúncia em inglês também é muito difundida entre os fashionistas: “CLÔU-i”. Abrasileirando, o nome da grife é falado como se lê: “clô-É”.
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Mondo by Lady é uma derivação digital dos conceitos Mondo Fashion e Mondo Marca que Andrea Tavares desenvolveu em eras impressas. Traduzindo o universo das marcas, Mondo Fashion se referia aos textos sobre as grifes de moda e Mondo Marca, às marcas de outros gêneros, ambas sempre relatando em detalhes a origem, os pontos altos, os ícones, as curiosidades e as suas coleções de óculos.
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Chloé nas redes
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