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Chega ao fim, depois de quatro anos, a parceria que levou à criação da Thélios e consolidou a presença do conglomerado francês no universo dos óculos.

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As corporações anunciaram a decisão de conduzir a Thélios a uma nova fase de seu desenvolvimento, integrando-a totalmente ao LVMH.

O acordo entre Marcolin e LVMH prevê que esse último adquirirá os 49% da participação societária da Marcolin na Thélios. Paralelamente, a Marcolin comprará de volta os 10% que o LVMH detinha na companhia italiana, resultado de negociação realizada na época da fundação da Thélios.

Conforme o comunicado oficial, para o LVMH esse passo é uma oportunidade de fortalecer ainda mais a sua atuação na produção de óculos. Já para a Marcolin representa a chance de buscar futuros investimentos estratégicos.

Nos primeiros nove meses de 2021, o LVMH registrou receita de € 44,2 bilhões, com crescimento orgânico de 11% em relação a 2019. A divisão de moda e artigos de couro contabilizou elevação de 57% nas vendas em 2020 e 38% em 2019.

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Os primeiros dias

Tudo começou em 31 de janeiro de 2017, quando a Marcolin confirmou o rumor que já vinha circulando ao publicar em seu site a criação de uma joint venture (que meses depois foi batizada de “Thélios”) com o conglomerado francês de marcas de moda e luxo LVMH. A declaração ainda comunicava a possibilidade de fazer as coleções de óculos das grifes Céline e Louis Vuitton (ambas do portfólio da LVMH) já em 2018, com o objetivo de se tornar o “parceiro preferido” do grupo francês para seus negócios de óculos.

Ficou acertado que a LVMH deteria 51% e a Marcolin, os outros 49% da nova empresa. Como parte do acordo, o grupo francês concordou com um aumento de capital reservado de € 22 milhões na Marcolin, passando a ter cerca de 10% das ações da empresa italiana.

Na época, estimava-se que as contribuições de capital próprio para custos iniciais, investimentos e necessidades de capital de giro da joint venture ficariam entre € 20 milhões e € 25 milhões no decorrer dos quatro a cinco anos seguintes.

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Antes do LVMH, o Kering

A entrada do LVMH no negócio de óptica consolidou a tendência que teve início com o também francês Kering Group, que, em setembro de 2014, optou por retomar junto às fábricas as licenças para criar e produzir coleções de óculos das grifes de seu portfólio e internalizando a operação, ao criar a Kering Eyewear. Três anos depois, estabeleceu uma parceria estratégica com o conglomerado suíço Richemont, trazendo mais grifes para seu universo, entre elas a Cartier e a Chloé.

A chegada dos conglomerados de moda à óptica redesenhou o modelo de negócios que se desenhava bem-sucedido até então, que era de conceder licenças aos fabricantes de óculos. Com isso, muitas grifes saíram do radar das licenças das indústrias ópticas, que, em parte, precisaram se reinventar buscando novos caminhos, seja buscando grifes independentes (aquelas que não fazem parte de conglomerados), seja investindo em marcas próprias ou abrindo espaço para produzir óculos de terceiros.

Curiosamente, janeiro de 2017 ficou marcado na história da óptica mundial não apenas pela divulgação da parceria entre Marcolin e LVMH. Também neste mês, mais precisamente no dia 16, foi anunciada a megafusão entre Essilor e Luxottica, criando a EssilorLuxottica, e no dia 30, outro movimento colocou a Luxottica e o Brasil na berlinda, com a aquisição das 900 lojas da Óticas Carol.

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A linha do tempo da Thélios

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Janeiro de 2017

Marcolin e LVMH anunciam a parceria para a criação de uma joint venture, com participações societárias, respectivamente, de 49% e 51%. Como parte do acordo, o conglomerado francês adquiriu 10% da companhia óptica italiana.

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Outubro de 2017

A joint venture começou a ganhar corpo, delineando-se a nova operação. O nome, inspirado na mitologia grega, foi finalmente divulgado: “Thélios”, síntese entre Theia (deusa da luz e da visão) e Helios (deus do sol), revelando a essência da nova empresa: cobrir o ciclo completo de produção de óculos, atuando na criação, na fabricação e na distribuição mundial de armações de receituário e modelos solares para as maisons que integram o universo LVMH.

Em entrevista ao jornal norte-americano Vision Monday, durante o salão de óptica francês Silmo, o então CEO Giovanni Zoppas declarou: “a Thélios oferecerá qualidade em design, produção, distribuição, seletividade e também nos processos. A operação será baseada no savoir faire, nas capacidades humanas, indo além do que é padrão. Será uma abordagem única, um processo de 360 graus, em que tudo é consistente”.

Zoppas revelou ainda que a nova operação de Longarone se daria em uma fábrica separada da Marcolin: “não é uma típica relação entre licenciador e licenciado, mas uma verdadeira joint venture, respeitando-se os negócios das partes envolvidas”.

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Janeiro de 2018

A grife francesa Céline (antes nas mãos da Safilo) inaugura o portfólio da nova empresa.

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Abril de 2018

É inaugurada a fábrica, a Manifattura Thélios, em Longarone, província de Belluno, Vêneto. Essa cidade também abriga outras indústrias ópticas, como De Rigo, Look, Trevi Coliseum e a própria Marcolin.

Segundo o comunicado oficial, a Thélios combina as expertises da Marcolin e do LVMH, unindo dois grupos que compartilham a mesma visão sobre o futuro dos óculos.

O projeto arquitetônico da nova indústria foi assinado pelo escritório Designgroup Architetti Associati em uma área construída de 8 mil metros quadrados com caráter ambientalmente responsável, já que conta com 2,3 mil painéis solares instalados na cobertura.

Naquela altura, a Thélios já produzia as coleções de óculos para Celine, Loewe e Fred e empregava 245 funcionários pelo mundo afora, 100 deles na fábrica de Longarone.

“Graças à aliança de tecnologias de ponta com expertise única, a Manifattura Thélios reúne uma produção completa e flexível que garante o controle integral do produto, desde as orientações iniciais de criação até o design 3D, prototipagem e produção final”, explicou o diretor administrativo do LVMH, Toni Belloni. “A Itália é um país estratégico para o grupo LVMH e a Manifattura Thélios é a prova do alto investimento a favor da economia italiana e de seu desenvolvimento”, concluiu.

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Março de 2019

Foi a vez de dar as boas-vindas à Kenzo Eyewear.

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Abril de 2019

A Thélios lança a coleção de óculos da Berluti.

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Setembro de 2019

A Thélios desembarca nos Estados Unidos, com a abertura de uma subsidiária. Para começar, um showroom na Madison Avenue, em Nova York, que abriga o atendimento ao cliente e as equipes de vendas, marketing e comunicação.

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Dezembro de 2019

Em mais uma entrevista concedida ao jornal norte-americano Vision Monday, o CEO da Thélios, Giovanni Zoppas, revelou que a fábrica de Longarone tem capacidade de produção de 1,5 milhões de peças e, com a adição de 12 mil metros quadrados, triplicará essa capacidade. Naquela época, 400 pessoas trabalhavam na empresa com a expectativa da abertura de outros 400 postos de trabalho, a maioria para a fábrica.

Depois do showroom dois meses antes, a Thélios ampliou sua presença nos Estados Unidos, com a abertura do centro de distribuição, sediado em East Rutherford, estado de New Jersey, dedicado a operações, TI e financeiro.

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Julho de 2020

É lançada a coleção de óculos da Rimowa, a luxuosa marca de malas.

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Janeiro de 2021

A Dior, “joia da coroa” do LVMH, estreia na Thélios.

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Maio de 2021

O CEO Giovanni Zoppas deixa o cargo.

Por outro lado, a Thélios ganha um reforço de peso: o executivo Andrea Guerra, que passa a integrar o Conselho Administrativo da empresa. O italiano ocupou a cadeira de CEO da concorrente Luxottica por uma década (entre 2004 e 2014), período de intensa profissionalização na companhia italiana, além da compra da norte-americana Oakley e da aquisição maciça de redes de varejo em várias partes do mundo.

Apesar dos rumores de que ocuparia o cargo de CEO, o LVMH garantiu que Guerra segue apenas como membro do Conselho. E, segundo o jornal italiano Italy 24 News, sua experiência pode ser útil para ajudar na contratação do novo diretor executivo da Thélios.

Guerra entrou no LVMH em 2020, quando assumiu o comando da divisão de hospitalidade do conglomerado francês, que congrega hotéis e trens de luxo – antes, chefiou por cinco anos o Eataly de Oscar Farinetti -, e no começo deste ano, também passou a atuar como uma espécie de tutor dos CEOs da Loro Piana e da Fendi, respectivamente, Fabio d’Angelantonio (seu contemporâneo na Luxottica) e Serge Brunschwing, supervisionando o trabalho de ambos e apoiando-os a desenvolver continuamente as marcas.

Curiosamente, Guerra já atuou no ramo hoteleiro logo que saiu da faculdade. Em 1989, tornou-se diretor de marketing no Marriott International.

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Julho de 2021

A Thélios adiciona os óculos da italiana Fendi a seu portfólio.

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Setembro de 2021

Anúncio da chegada da Givenchy, cuja coleção deverá ser apresentada em janeiro.

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Dezembro de 2021

A Thélios passa a ser 100% do LVMH.

A fábrica produz coleções de óculos das grifes Berluti, Celine, Dior, Fendi, Fred, Kenzo, Loewe, Rimowa e Stella McCartney.

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